ENTREVISTA COM: WARREN BENNIS O TALENTO DOS GRANDES GRUPOS
As grandes idéias saem de grandes grupos comandados por líderes excepcionais. São pessoas capazes de realizar feitos notáveis e de motivar as suas equipas a fazerem o mesmo, mas raramente têm idéias brilhantes. Por Joel Kurtzman
W arren Bennis chamou a atenção pela primeira vez quando, em 1964, no meio da guerra fria, publicou, juntamente com Philip Slater, cientista social, um artigo na Harvard Business Review, no qual defendiam que a democracia era uma força imparável.A premissa da peça é que a democracia é um sistema de valores superiores e mais funcionais do que os valores dos outros sistemas. Valores, segundo a sua opinião, não são apenas uma colecção das qualidades e atitudes de um grupo, antes determinam as coisas que o grupo faz e a forma como as faz. Como tal, são vitais para o grupo alcançar os seus objectivos. Quando começou a estudar negócios, voltou a levantar a questão. Os grandes líderes são capazes de realizar grandes feitos e de motivar os seus seguidores para fazerem o mesmo, escreveu, porque são capazes de articular e incorporar os valores dos grupos que lideram. Strategy & Business — Qual a importância dum líder num grupo? O que é que é necessário para assegurar o sucesso de um grupo? Isto é mais do que ter uma visão. Podemos ver a diferença na frequentemente citada forma como Steve Jobs foi buscar John Scully para assumir o comando da Apple. Na altura, Sculley estava destinado a tornar-se o presidente da PepsiCo. O clique deu-se quando Jobs lhe perguntou: «Quantos anos mais vai dedicar a fazer água corada quando tem a oportunidade de mudar o mundo?» Por isso a visão tem de ter um significado profundo. Tem de ter alguma ligação com o mundo em mudança, com uma missão divina. Os grupos que descreve como sendo grandes são, de certa forma, entidades fechadas, apesar de estarem de alguma forma ligados ao mercado. Por exemplo, J. Robert Oppenheimer, a força criativa por trás do Projecto Manhattan, sabia onde encontrar jovens físicos brilhantes para desenvolver a bomba atómica. Apesar de estar em Los Alamos, e Deus sabe como é um lugar longínquo, foi capaz de percorrer todo o país para recrutar os melhores cérebros disponíveis. Tinha um Rolodex dentro da cabeça antes do aparelho ter sido inventado. Dito de outra forma: os grupos são fechados em si mesmos e protegidos, mas no entanto também têm redes para saberem o que se passa no mundo real. Mas como é que fazem isso? Afinal, muitas das grandes coisas que surgem destes grupos são muito radicais. E no entanto encaixam-se de alguma forma no contexto de qualquer mercado. W. B. — É aí que entra outro aspecto da capacidade de fazer desobertas, porque poderia ser um grupo que estivesse isolado, que estivesse a fazer o que julgasse ser um notável avanço paradigmático, sem ter na realidade qualquer impacte no mercado nem ligação com as necessidades ou interesses das pessoas. É aqui que é preciso ter muita sorte. E é aqui também que a liderança é importante. Onde é então que o líder se encaixa na figura? W. B. — Para começar, é necessário um líder para proteger o grupo das forças desestabilizadoras do exterior e para possuir uma espécie de Rolodex no céu para saber o que é que se passa. Líderes como Bob Taylor e John Seely Brown, do Centro de Investigação de Palo Alto, Peter Schneider e Jeffrey Katzenberg, da Disney, e Kelly Johnson, da Lockheed, foram todos capazes de recrutar as suas tropas e de as proteger dos ataques, mantendo simultaneamente uma forte ligação com o mundo exterior. Nesse sentido, os líderes são verdadeiros protectores. Kelly Johnson, por exemplo, entrou para o conselho de administração da Lockheed para poder manter os burocratas afastados da criatividade que se estava a desenvolver. Um líder pode ser criador e protector simultaneamente, apesar de representarem estados de espírito e formas de funcionamento diferentes? Então o líder tem a função de encontrar a ligação ao mercado? E como é que se encontram as pessoas certas? Por que é que as pessoas procuram desesperadamente agradar mesmo a líderes difíceis como Steve Jobs? Eles têm esta incrível intuição para detectar talento. Apesar de terem egos pré-Copérnicos, são capazes de conseguir as pessoas que sabem fazer o que eles não sabem. Isso significa que são capazes de abandonar os seus enormes egos ao talento dos outros. É importante que um líder possua um sentido de marcações e medidas? W. B. — Absolutamente. Não basta existir um prazo limite, é necessário haver uma métrica clara, é preciso manter isso em frente do grupo. E com uma regularidade monótona o líder tem de relembrar as pessoas do que é importante. Se o grupo não apresentar o trabalho em determinada data então «os alemães vão chegar primeiro» ou «outro concorrente qualquer vai fazer este novo PC antes de nós». Tem de existir sempre uma espécie de noção assombrada de um prazo a cumprir. Estes grupos são ferozmente competitivos e a única forma de ser ferozmente competitivo é saber que existem datas, medidas, e que existe um produto. Os grandes grupos têm mesmo de SHIP. Por definição, estes grupos avançam em territórios sem mapas. Como é que sabemos quais é que devem ser as medidas? Como é que se estabelece uma métrica? Através de um produto e de um prazo. Mas não creio que se possa estabelecer uma meta da forma usual a priori. Juntando tudo isto, parece claro que estes grandes grupos são de facto criaturas muito especiais. O que significa que não se pode gerir uma compahia inteira como se fosse um grande grupo. Mas como é que faz para que todos os grupos da organização façam esse tal grupo e os seus elementos sintam que o seu trabalho tem um significado para eles? O problema é que muitas pessoas da organização podem ter visão, mas o seu trabalho não tem qualquer significado. Elas até já se esqueceram porque é que lá estão, e é por isso que as burocracias se tornam pesadas e obsoletas. Assim, as lições dos grandes grupos são importantes para todas as organizações, porque nos encorajam a aspirar sermos mais do que aquilo que somos. Como é que há grandes grupos que surgem espontaneamente? Quer eu esteja a liderar um grande grupo ou um grupo normal, que quantidade de conhecimento devo revelar? A arte da liderança é saber a quantidade de informação que vai transmitir para manter as pessoas motivadas e ser o mais honesto e frontal possível. Mas realmente não existem limites. E os grupos que falham? Michael Eisner, da Disney, diz que quer criar uma organização em que as falhas sejam toleradas. Um grande grupo tem de tolerar uma má jogada ou um falhanço total? Bem, quando se trabalha com Pollack, sabe-se que se está nas mãos de uma pessoa muito competente. E isso leva-nos, e ao resto do grupo, a fazer mais do que nos julgávamos capazes. É o mesmo tipo de dar e receber que experimentei quando era um jovem líder de pelotão — no início recebi confiança das tropas e em seguida retribuí-lhes confiança. Existem exemplos de grandes grupos muito directos, hierárquicos, de cima para baixo? Ou existe sempre o sentimento de partilha? |
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Condensado de Thought Leaders — Insights on the Future of Business, de Joel Kurtzman. © 1998 by Jossey-Bass Publishers. Publicado com a permissão de Jossey-Bass Publishers. Traduzido por Catarina Ferrer. Texto extraído da Internet (On Line) disponível no endereço: http://www.centroatl.pt/edigest/edicoes/ed48manag1.htmlConsultado em 25/06/2001. |